ATUALIDADE DE SÃO JOSÉ (São José Era Assim... Capítulo XXIV)


ATUALIDADE   DE   SÃO   JOSÉ


Na sua encíclica Quamquam pluries Leão XIII não esquece o lado prático e social do patrocínio de São José. A verdadeira casa do Senhor, o reinado de Deus sobre a terra, é a Igreja. Todas as pessoas, qualquer que seja seu estado de vida, têm reais motivos para confiar-se a São José. Para os pais de família, ele personifica a vigilância e a previdência; para os esposos, ele é o modelo do amor, da união dos corações e da fidelidade. Para as virgens e todos os consagrados, ele é um ideal e um protetor. Porque, nele, os nobres sabem conservar sua dignidade, mesmo no infortúnio; e os ricos compreendem onde estão os verdadeiros bens.
Os pobres, os humildes, os proletários, os operários, têm um direito especial à proteção de São José. Todos eles têm interesse em recorrer a ele e imitar suas virtudes. Ele, de condição real e esposo da mais gloriosa das mulheres, passou sua vida numa condição laboriosa, tirando de seu trabalho o sustento para sua família. A condição dos trabalhadores nada tem de desonroso; a virtude a reveste de nobreza. O exemplo de José sustenta a coragem dos pobres e dos trabalhadores, ao mesmo tempo que os mantém com idéias conformes à equidade. Todos têm o direito e o dever de melhorar sua situação por meios legítimos. O recurso à violência só faz agravar os males.
À longa enumeração que faz Leão XIII de todos aqueles que levam vantagem por recorrer a São José, é preciso ajuntar numerosas categorias de pessoas nas mais diversas situações. Pensemos em todos os perseguidos, especialmente naqueles que o são por causa do nome de Jesus. José conheceu o terror dos fugitivos, que clamam, não tanto por si mesmos, mas pela vida dos que lhe são caros. Sabe do sofrimento dos exilados políticos, das pessoas desempregadas e que procuram um ganha-pão por conta própria em terra estrangeira; ele é aliado dos cristãos clandestinos que, em numerosos países, estão desprovidos, perdem sua situação e põe em perigo o porvir de seus filhos.
José é o modelo para todos aqueles e aquelas que consagram suas vidas ao serviço do próximo por amor do Senhor, como para todos que vivem à escuta do Espírito Santo. O ateliê de Nazaré é um verdadeiro santuário; José e Maria são marcado pela presença do Espírito Santo; eles a ele se referem e nele operam constantemente. Ali tudo é oração, porque tudo se torna referência a Deus. Ali Jesus adolescente forma seus músculos e sua consciência de trabalhador; ao mesmo tempo desenvolve sua inteligência humana, o seu saber-fazer e o seu saber-viver. José tem algo a dizer a todos aqueles que são encarregados da formação humana, intelectual e profissional dos jovens.
São José é o modelo acabado das almas contemplativas e de todos aqueles cuja principal preocupação é amar o Senhor e conhecê-lo sempre melhor. Teresa d’Ávila escreve: “Sobretudo as almas de oração, deveriam sempre honrar São José com um culto particular. Ademais, eu não vejo como alguém possa pensar na rainha dos anjos, e em tudo aquilo que ela sofreu em companhia do Menino Jesus, sem agradecer a São José por ter cuidado tão bem deles. Aqueles que não encontram um mestre para ensiná-los a orar, só têm que tomar esse santo por guia, e eles não errarão o caminho” (Vida, c.6).
Monsenhor Olier convida os padres, “dentro dos quais Deus reside em sua fecundidade pura e virginal”, a seguir as pegadas de São José. Ele conduziu Jesus no Espírito de seu Pai celeste, com doçura e sabedoria; o padre deve tratar aqueles que lhe são confiados como outros Cristos, com a reverência que São José tinha por Jesus. O que se diz do sacerdócio, é preciso estender ao diaconato e a todos os serviços da Igreja. São José é o primeiro diácono do primeiro padre. Por seu trabalho ele nutriu a carne de Cristo, que se tornou para nós o pão eucarístico.
José é o protetor das vocações, das causas difíceis, das situações complicadas. Se alguém recorre a ele, ele ensinará os jovens a discernir o apelo do Senhor e a segui-lo até o fim. Ele irá à procura daqueles que não têm mais confiança em seu sacerdócio ou na Igreja; daqueles que se perguntam para onde vão. E os reconduzirá “aos negócios do Pai”. José, que acolheu os pastores e os magos, sem distinção, nos ensina que os pobres têm sua riqueza e os ricos, sua pobreza. Um cristão deve ser aberto e acolhedor a quem quer que seja.

A família humana contribui para o crescimento do corpo místico de Cristo, que é a Igreja. O trabalho do pai, o devotamento incansável da mãe, a contribuição dos educadores e dos padres, fazem crescer os membros desse corpo místico sob o influxo do Espírito Santo. Nestes tempos, em que compreendemos melhor o sacerdócio real dos cristãos, é proveitoso meditar sobre a parte que José teve no sacerdócio de Cristo por sua oferenda, o dom de si mesmo e sua participação nos sofrimentos redentores. José esteve dessa forma unido ao Verbo encarnado, oferecendo-se ao Pai pela salvação do mundo; ele uniu-se ao oferecimento quotidiano do Salvador. Como o Papa João XXIII foi bem inspirado ao colocar o seu nome na oração eucarística!
José recorda-nos, assim, a existência do mundo invisível, ele é um familiar dos anjos. Ele é acolhedor com as luzes que vêm do alto. Os anjos são seres de luz e de bondade que o Senhor criou para sua glória e para  nossa alegria. Eles contribuem para a beleza e harmonia do universo. São reflexo da beleza, da bondade e do poder de Deus. Para nós eles são amigos e benevolentes protetores. Nunca será demais acreditar em seu afeto para conosco e no interesse que eles têm por tudo o que nos diz respeito.
As crianças, os pobres, os sem-teto, os mal-amados, os doentes, os portadores de deficiência e os necessitados de toda sorte, representam de maneira privilegiada a humanidade do Cristo. Compreende-se facilmente que, aqueles que se dedicam ao seu serviço, coloquem-se sob a proteção de São José, e que, por sua vez, o santo manifeste uma predileção por aquela clientela que o mundo desdenha. Pense-se ao que se passa no “Cotolengo” de Turim e em todas as casas das Irmãzinhas dos Pobres. Milhares de necessitados vivem às expensas da Providência.
As intervenções de São José são muito freqüentes, e humanamente inexplicáveis, para que se possa negá-las. Em resposta a uma oração, por vezes ingênua, ele se faz nutridor daqueles que não contam com nenhum apoio neste mundo. Amiúde acontecem coincidências simples e felizes, mas o número de casos leva a conceber a intervenção de uma mão invisível e de um coração amante. Digno de nota é, que o resultado final é sempre uma aproximação de Cristo. São José não se contenta de dar pão e teto, isso não é suficiente, ele conduz discretamente a Deus.
José não tem nada de um distribuidor automático, nem de um paizão bonachão. É um homem sensato e prudente, com todas as qualidades de sua raça. Como ele cuidou dos negócios do seu Senhor, ele sabe como é preciso fazer para o bem dos corpos e das almas. Ele nunca é apressado; se ele parece não escutar, é para atender melhor e estender ao máximo a generosidade. Prudente e discreto, nunca encoraja a indolência ou a mediocridade. E sabe dar uma lição oportuna, com amabilidade.
Numerosas são as congregações religiosas, sobretudo femininas, que se puseram sob a proteção de São José. É preciso citar principalmente as religiosas de São José fundadas em Puy no século XVII e que estão na origem de mais de cinqüenta congregações diferentes. As Irmãs de São José de Cluny, as de Lyon , de Clemont, de Marseille, de Bordeaux, de Bourg, de Chambéry, de Viviers, etc., são particularmente florescentes. Muitas têm numerosas casas em países de missão. A vida religiosa na escola de São José favorece a intimidade com Jesus e Maria e leva a todas as formas de devoção.
A intercessão de São José, como a da santa Virgem, nada tira à mediação única e universal do Cristo. Todas as orações, por definição, são dirigidas a Deus; não param nos santos. Jesus Cristo tem prazer em honrar José e Maria fazendo passar pelas mãos deles os dons que nos destina; a alegria é assim multiplicada para proveito de todos. José é aquele que disse “sim” a Maria, um “sim” irrevogável; que também disse “sim” a Jesus ao aceitá-lo em seu lar com as conseqüências que decorreriam. Por isso, afirma São Francisco de Sales: “Nada lhe será recusado, nem por Nossa Senhora, nem por seu glorioso Filho” (Entr. 19).
É nesse sentido que São José parece acolher as orações que se lhe dirigem, com uma benevolência particular. Há igrejas dedicadas a ele, e centros de peregrinação. Entre os mais célebres e ao mesmo tempo um dos mais recentes, destaca-se o Oratoire Saint-Joseph em Montreal, que recebe a cada ano, de dois a três milhões de pessoas. Confiado aos religiosos da Santa Cruz, conta com um centro de pesquisas teológicas e históricas sobre São José. Esse centro publica os Cahiers de Josephologie, enquanto que os Annales de Saint-Joseph dão as notícias das peregrinações.
O Oratório Saint-Joseph, tornado basílica em 1954, deve sua origem a um convertido da congregação da Santa Cruz, o irmão André (1845-1937). Como porteiro de seu convento, ele recebia muitas confidências e muitos pedidos a respeito de misérias físicas e morais. Não podendo solucionar a tudo por si mesmo, ele convidava à oração e à confiança em São José. Resultados imprevistos fizeram-se conhecer: os doentes afluíram e as curas multiplicaram-se. O irmão obteve que uma pequena capela fosse construída no alto da colina, daí o seu nome de oratório, que ficou apesar das ampliações sucessivas. O Ir. André passou ali a sua vida, cuidando dos doentes e fazendo-os rezar. O principal remédio empregado é a hulha da lâmpada que brilha diante da estátua de São José.
É notável que a devoção do irmão André, que ele tinha grandíssima desde jovem, desabrochou ao longo de toda sua vida. Ela manifestou-se por uma dedicação incansável ao serviço do próximo, especialmente pelos membros sofredores do Cristo. Ao mesmo tempo, intensificava-se o seu amor pela Virgem Maria, a paixão de Cristo, a eucaristia, sobretudo a missa, tornam-se sua preocupação constante. José levou o Ir. André à Virgem Imaculada, depois eles entraram juntos no mistério do Cristo que vive na sua Igreja. O Oratório, de que o Ir. André foi humilde promotor, é um centro mundial de devoção a São José porque ele permanece um centro eucarístico e eclesial.
Um outro santuário, o de Kalisz, na Polônia, merece uma menção especial. É uma igreja dedicada a Nossa Senhora e sua assunção que, depois de três séculos, é chamada a colegial São José, por causa de um quadro da sagrada família denominado “a imagem milagrosa de São José. A 31 de maio de 1783, o Papa Pio VI permitiu coroar essa “imagem milagrosa”, isto é, pousar uma coroa na cabeça de cada um dos três membros da sagrada família. Durante a primeira sessão do concílio, paróquias de diversas dioceses revezavam-se para rezar dia e noite naquela igreja para o pleno sucesso dos trabalhos. Em reconhecimento, o Papa João XXIII enviou um de seus preciosos anéis que foi fixado à imagem milagrosa de São José a 13 de janeiro de 1963.
A igreja de Kalisz é também um centro de estudos onde os teólogos se debruçam sobre tudo o que concerne a São José. Existem alhures outros centros de estudo, por exemplo no México, na Bélgica, em Louvain, em Roma, etc. Na Espanha, a Sociedad Ibero-Americana, animada pelos carmelitas de Valladolid, é muito ativa. Nesse país, os santuários dedicados a São José são muito numerosos e a devoção dos fiéis é florescente. O mesmo acontece na Itália. Os Padres de São José, fundados pelo bem-aventurado Murialdo, são muito ativos. A Alemanha não fica atrás. Na América, cursos sobre São José são dados cada vez mais nas universidades.
Na França, diocese de Fréjus, Cottignac guarda a lembrança de uma aparição de São José. A 7 de junho de 1660, Gaspar Richard guarda seus carneiros. Ele está com muita sede. Um personagem venerável apresenta-se e lhe diz: “Eu sou José, levante essa pedra e você poderá beber!” Gaspar hesita porque a pedra é enorme. José insiste; a pedra é levantada sem esforço e a água escorre abundante e límpida. José desapareceu, mas a fonte não deixou de jorrar até os dias de hoje. Multidões vinham à fonte até à Revolução. Depois, os desmoronamentos e as dificuldades fizeram dessa romaria uma méritória expedição. Os amigos de São José tomaram a peito desbastar o terreno e tornar a capela facilmente acessível.
Em Languedoc, diocese de Montpellier, o abade Granier construiu uma capela em honra de São José por ocasião do centenário da declaração do padroado universal, 1870-1970. Voluntários plantaram mil dúzias de mudas de árvores para tornar aquele lugar hospitaleiro e acolhedor. Um velho moinho foi transformado em eremitério. A capela encontra-se em Mont-Rouge, na paróquia de Puimisson, perto de Béziers. Mais do que uma peregrinação, é um lugar de reabastecimento espiritual: “Ver Jesus com os olhos e o coração de José”.
Devemos citar ainda São José de Bon-Espoir em Espaly, perto de Puy. Uma estátua colossal ergue-se sobre uma velha fortaleza; grutas foram transformadas em capelas. Tudo começou muito pequeno, por devoção de uma mulher humilde, refugiada nessas grutas.
São muitos os outros santuários e lugares de peregrinação. Além disso, existem confrarias vivas e fervorosas. Entre essas, merece ser citada a archiconfrérie d’Allex, na diocese de Valence, por suas dimensões missionárias. Ela é confiada aos Padres do Espírito Santo que lá estabeleceram uma escola de missões. Os jovens recebem, ao mesmo tempo que uma séria formação humana, também o gosto por uma vida exigente e pelo cuidado da Igreja universal. Uma belíssima publicação La Revue de saint Joseph, transmite uma sólida doutrina e a solicitude pelas missões.