COM O PAPA E O CONCÍLIO (São José Era Assim... Capítulo XXV)


XXV

COM  O  PAPA  E  O  CONCÍLIO


             Declarando São José padroeiro universal da Igreja, o Papa Pio IX só fazia exprimir o sentimento do povo cristão e, ao mesmo tempo, prolongar o ensinamento de seus predecessores. Seus sucessores fizeram o mesmo. Leão XIII, depois da magistral encíclica Quamquam pluries, a primeira dedicada a São José, publica o breve neminem fugit no qual pedia aos lares cristãos que se consagrassem à sagrada família de Nazaré “exemplar perfeitíssimo de sociedade doméstica, ao mesmo tempo que modelo de todas as virtudes e de toda santidade”.
Pio X tinha grande devoção a São José seu protetor de batismo. Foi ele que aprovou as ladainhas  em honra desse santo e permitiu sua inserção nos livros litúrgicos. Nisso ele estava, disse, em plena conformidade com seus predecessores Pio IX e Leão XIII. José, com efeito, é um socorro poderoso e utilíssimo para a família e a sociedade (1909).
Bento XV publica em 1920, nos albores da primeira guerra mundial, uma encíclica sobre a paz, depois um Motu proprio para convidar os bispos do mundo inteiro a celebrar o centenário do padroado levando os fiéis a renovar sua devoção a São José e à sagrada família. O recurso a São José é um remédio para “a difícil situação em que se debate hoje em dia o gênero humano”. Seus exemplos e sua proteção mantêm no dever, e preservam das falsas doutrinas, aqueles que ganham a vida com seu trabalho, em todas as partes do mundo. A 26 de outubro de 1921, Bento XV estendia para toda a Igreja a festa da sagrada família.
Pio XI, o Papa da Ação católica e das missões, pronunciou sobre São José palavras de uma excepcional importância. Esse homem intrépido não pode ser acusado de ignorância ou de piedade sentimental. A 21 de abril de 1926, na beatificação de Jeanne-Anthide Thouret e de André-Hubert Fournet, ele precisa os fundamentos do padroado de São José cuja festa caía naquele dia: “Eis um santo que durante toda sua vida dedicou-se inteiramente ao cumprimento de uma missão única da parte de Deus, a missão de guardar a pureza de Maria, de proteger Nosso Senhor, e de ocultar, por sua admirável cooperação, o segredo da redenção. É na grandeza dessa missão que se encerra a santidade singular e incomparável de São José, pois uma tal missão não foi confiada a nenhum outro santo... É evidente que em virtude de uma tão elevada missão José possuía já o título de glória que é seu, aquele de padroeiro universal da Igreja. Toda a Igreja, com efeito, encontra-se já presente junto dele, no estado de um gérmen fecundo”.
Dois anos mais tarde, a 19 de março de 1928, na festa de São José, ele retoma o mesmo argumento e mostra que a missão de São José é mais importante do que a de João Batista e de São Pedro. Entre a missão de João Batista e a de São Pedro, situa-se a de São José. “Missão recolhida, silenciosa, quase despercebida e desconhecida, missão cumprida na humildade e no silêncio... Onde é mais profundo o mistério, mais espessa a noite que o recobre e maior o silêncio, é justamente lá que é mais alta a missão e mais brilhante o cortejo das virtudes requeridas, bem como dos méritos decorrentes. Missão única, altíssima, aquela de guardar a virgindade e a santidade de Maria, entrar para fazer parte do grande mistério escondido aos olhos dos séculos e cooperar assim para a encarnação e a redenção.
Essa missão única de São José sobre a terra traduz-se nos céus por um grande poder de intercessão. Pio XI declara a 19 de março de 1935: “José é aquele que pode tudo junto ao divino redentor e junto a sua divina mãe, de uma maneira e com uma autoridade que ultrapassa a de um simples depositário”. E a 19 de março de 1938: “A intercessão de Maria é aquela da mãe, não se vê como seu divino Filho poderia recusar algo a uma símile mãe. A intercessão de José é aquela do esposo, do pai putativo, do chefe de família, ela não poderia não ser todo-poderosa, pois o que poderiam Jesus e Maria recusar a José que consagrou a eles sua vida e a quem eles devem realmente os meios de sua existência terrena?”
Para realizar o seu lema: “A paz de Cristo dentro do reino de Cristo”, Pio XI conta especialmente com a intervenção de São José. Na sua célebre encíclica Divini redemptoris, em 1937, ele declara: “Nós colocamos a grande ação da Igreja católica contra o comunismo ateu mundial sob a égide do poderoso protetor da Igreja, São José. Ele pertence à classe operária, e fez a experiência da pobreza para ele e para sua família; foi um chefe vigilante e amoroso; recebeu a guarda do Menino-Deus quando Herodes lança contra ele os seus sicários. Por sua absoluta fidelidade dentro do dever quotidiano, ele deixa um exemplo a todos aqueles que devem ganhar seu pão pelo trabalho manual. Ele, que mereceu ser chamado ‘o Justo’, é o modelo vivo daquela justiça cristã que deve reinar na vida social”.
Pio XII quis cristianizar a festa do trabalho a 1o de maio, instituindo a festa de São José operário. Ele aplicou-se incessantemente em designar São José como protetor preferido de todas as classes da sociedade e de todas as profissões. Falou desse santo ao trabalhadores, aos recém-casados, aos militantes, aos estudantes e às crianças. Considerava o padroado de São José não como uma fórmula teológica, ou uma invocação piedosa, mas como uma verdade fundamental. José, como Maria, está intimamente ligado à doutrina do corpo místico de Cristo que é a Igreja dos céus e da terra.
Quanto a João XXIII, deu múltiplos testemunhos de sua devoção a São José. Ele confessou: “São José, eu o amo muito, a tal ponto que eu não posso começar minha jornada, nem terminá-la sem que minha primeira palavra e meu último pensamento sejam para ele”. Como núncio em Paris, ele visitou a casa mãe das Irmãzinhas dos Pobres, em La-Tour-Saint-Joseph. Nessa ocasião, ele contou que quis receber a consagração episcopal na festa de São José “porque é ele o protetor dos diplomatas”.
E explicou: “Como São José, os diplomatas devem todos juntos apresentar Jesus e escondê-lo. Como São José eles devem saber calar-se, medir suas palavras, saber empenhar-se sem olhar a dignidade do serviço... e sobretudo experimentar doce e engolir amargo... obedecer mesmo sem compreender, como São José quando partiu com seu burrinho”.
Tornado Papa, ele dará essas mesmas consignas a todos os cristãos: empenhar-se nas tarefas humildes, como nas missões interessantes, sem olhar para a dignidade daquilo que se faz. José, esposo de Maria, foi só um artesão que ganhava o pão com seu trabalho. Aquilo que conta diante de Deus é a fidelidade. Na sua eleição, ele lamentava não poder assumir o nome de José, por causa do costume, mas escolheu 19 de março como data de sua festa.
A 19 de março de 1959, celebrando a missa para um grupo de trabalhadores da cidade de Roma, ele dirá: “Todos os santos glorificados, merecem seguramente uma honra e um respeito particulares, mas é evidente que São José possui, com justiça, um lugar que lhe é próprio, mais suave , mais íntimo, mais penetrante em nosso coração”.
A 1º de maio de 1960, João XXIII dirige, via rádio, uma mensagem sobre São José a todos aqueles que trabalham e a todos aqueles que sofrem. Começava assim: “Nosso pensamento dirige-se muito naturalmente a todas as regiões e a todas as cidades onde a vida se desenrola no dia a dia: no lar, junto da família, no escritório, na loja, no ateliê, na usina, no laboratório, em todos os lugares santificados pelo trabalho intelectual ou manual, sob as formas variadas e nobres que reveste segundo as forças e aptidões de cada um... Com a ajuda de São José todas as famílias podem reproduzir a imagem da família de Nazaré... De fato, o trabalho é uma missão sublime. Ele permite ao homem colaborar de maneira inteligente e eficaz com Deus que lhe deu os bens da terra para que os explorasse e fizesse frutificar”.
A grande iniciativa de João XXIII foi a convocação do segundo concílio do Vaticano. Na carta apostólica de 19 de março de 1961, explica porque ele quer que esse concílio, tão importante, seja colocado sob a especial proteção de São José. Começa a recordar aquilo que os seus predecessores fizeram para a glória de São José. Em seguida, explica que o concílio é feito por todo o povo cristão que deve beneficiar-se de uma corrente de graças para uma maior vitalidade. Acrescenta que não se pode encontrar melhor protetor do que São José para obter o seguro dos céus para a preparação e o desenrolar desse concílio que deverá marcar sua época.
Uma outra iniciativa importante de João XXIII foi introduzir o nome de São José na oração eucarística. Pio IX havia recuado diante de uma tal decisão. Os pedidos formulados no primeiro concílio do Vaticano,  foram retomados numerosíssimos no segundo. Os Padres conciliares não tinham que deliberar sobre esse assunto, pois tratava-se somente de um rito litúrgico entre tantos outros.
Portanto, o concílio fez sua aquela decisão de João XXIII, incorporando o texto do Communicantes, onde se encontra o nome de São José, na constituição dogmática Lumen Gentium. Essa constituição trata do mistério da Igreja, corpo místico de Cristo. O capítulo sétimo trata especialmente da união muito íntima que liga os membros da igreja que caminham ainda neste mundo àqueles que já gozam da vida em plenitude nos céus. Essa presença invisível de nossos amigos, os santos, atualiza-se quando nós estamos reunidos para a oração, e mais particularmente na celebração eucarística. O texto é para ser meditado, pois afirma que São José merece um lugar de escol:
“Mas nossa união com a Igreja celeste se realiza de modo nobilíssimo mormente na sagrada Liturgia, em que a força do Espírito Santo atua sobre nós por meio dos sinais sacramentais, quando em comum exultação (socia exultatione) cantamos os louvores... É, portanto, na celebração do sacrifício eucarístico que certamente nos unimos mais estreitamente ao culto da Igreja celeste, uma vez que a ela nos unimos sobretudo venerando a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, bem como do bem-aventurado São José, dos bem-aventurados Apóstolos e Mártires e todos os Santos” (LG 50).
Paulo VI fala amiúde de São José. Ele detém-se menos em sublinhar suas prerrogativas do que em recordar sua missão na Igreja de hoje: “A missão de José junto a Jesus e Maria foi uma missão de proteção, de defesa, de salvaguarda e de subsistência... A Igreja precisa ser defendida; ela precisa ser guardada segundo a escola de Nazaré, pobre e laboriosa, mas viva, consciente e disponível para a sua vocação messiânica. Essa necessidade de proteção, hoje, é grande para permanecer indene e para agir dentro do mundo... A missão de São José é a nossa: guardar o Cristo, e fazê-lo crescer, em nós e ao redor de nós” (Angelus – 19 de março de 1970).
A 19 de março de 1973, Paulo VI disse: “José é o protetor de Cristo na sua entrada para este mundo, o protetor da Virgem Maria, da sagrada família, o protetor da Igreja, o protetor daqueles que trabalham. Todos nós podemos dizer: nosso protetor”.
As liturgias orientais fazem eco aos ensinamentos dos Papas: “Ó José! Glória àquele que te honrou, glória àquele que te coroou, glória àquele que te fez protetor de nossas almas” (rito melquita).
“Ó José! Leva a Davi a boa notícia: eis, pai de Deus! Tu viste a Virgem grávida, junto com os pastores tu cantaste o Gloria, com os magos te prostraste, com os anjos trataste de assuntos divinos! Roga, então a Cristo, nosso Deus, que salve nossas almas” (rito bizantino).